A homenagem que se transformou em desrespeito

Daniel Dantas, Tatiana Braga, Deborah Oliveira e Cristiano Meneses -

É no bairro de Vila Isabel, zona norte carioca, onde podemos encontrar o túnel Noel Rosa. Inaugurado na década de 70, ele faz a ligação entre os bairros de Vila Isabel e Riachuelo. Mas o que era pra ser uma homenagem à vida e obra do artista se tornou um grande desrespeito a sua imagem.

O túnel está completamente abandonado. Buracos no chão, goteiras, falta de iluminação e até lixo são encontrados no local. A placa que sinaliza o início do trajeto foi alvo de pichações e se tornou complicado ler o que está escrito.


Além disso, existe a violência cotidiana que causa pânico nos motoristas que passam por lá. Encostado ao túnel está localizado o morro dos macacos, ponto freqüente da guerra entre traficantes. Muitos motoristas evitam pegar esse caminho devido a assaltos e balas perdidas que já fizeram muitas vítimas nesse lugar. A falta de policiamento e a escuridão no interior proporcionam um ambiente ideal para a ação de bandidos.


Como foi dito, o asfalto está esburacado e sempre molhado, devido ao problema de goteiras que nunca é solucionado. O estudante de engenharia da UFRJ, Rafael Couto, de 26 anos, é morador do bairro de Vila Isabel e atravessa diariamente o túnel. Ele revelou que já presenciou assaltos e também batidas entre carros, causadas pela pista molhada e iluminação precária, o que evidencia a falta de manutenção. Rafael afirma que passar por lá à noite é bastante perigoso, pois não há muita movimentação de carros e nem mesmo de policiais, deixando os motoristas desprotegidos. Ao relacionar a situação do túnel com a imagem de Noel, ele julga ser um descaso com a história do poeta e também com a sociedade, que é quem vêm sofrendo atualmente.

Infelizmente, a degradação do túnel é uma referência negativa à imagem de Noel, que merece ser lembrado e homenageado de uma forma bonita e alegre, devido a tudo que criou e deixou de exemplo.

Na entrada do túnel, a placa pichada e a favela logo acima

Início do trajeto. As goteiras e o lixo no chão mostram a falta de cuidado



Já dentro do túnel, podemos ver os buracos no asfalto
















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Ilustres cantores brasileiros que gravaram o “Poeta da Vila”.

Aline Balieiro, Rafael Ferreira e Pedro Ferreira -

Na Década de 60, Maria Bethânia após grande sucesso com o show “Opinião” ao lado de Zé Kéti e João do Vale, e de gravar o primeiro LP, a “Abelha-Rainha” lança um triplo só de voz e violão intitulado: Bethânia canta Noel.

Todas essas faixas estão reunidas nesta coletânea que traz ainda um registro ao vivo de seu primeiro sucesso, "Carcará", realizado em 66, e novos arranjos com orquestra das mesmas gravações do compacto de Noel, realizadas 25 anos depois pelo maestro José Briamonte.

Inúmeros artistas o louvam até hoje, Agenor de Oliveira, cantor e compositor carioca, reconhecido como um dos melhores intérpretes da obra de Noel Rosa, presta a merecida reverência ao mestre com a gravação do CD"Agenor de Oliveira canta Noel Rosa", lançado em 98 e indicado para o Prêmio Sharp de Música de 1999. Produção independente apresenta novas leituras de 13 das mais conhecidas composições de Noel.

Não são apenas celebridades que aclamam o mestre, cidades como a de Volta Redonda, em seu aniversário, no ano de 2007, fez uma linda festa e os músicos regionais fizeram um arranjo surpreendente com o repertório completo, dividido em quatro partes, “Volta Redonda Canta Noel Rosa - 70 Anos de Saudade” reservou espaço para clássicos do mestre, entre eles, “Com Que Roupa?”, “Palpite Infeliz”, “Pierrot Apaixonado” (em parceria com Heitor dos Prazeres) e “Amor de Parceria”.

Cria da Vila teve sua primeira gravação em 1929, quando o compositor estava com 19 anos. E a última, em 1937, quando tinha 26 anos de idade. Teve apenas sete anos para dizer o que pretendia e morreu numa idade em que a grande maioria dos compositores está iniciando a carreira - diz Môa.


O secretário lembra que são 70 anos de saudade: “O mais notável em Noel é que ele teve muito pouco tempo, no entanto, compôs músicas que impressionaram pela beleza e criaram uma nova linguagem para a música popular brasileira. Estaremos mostrando um pouco de sua obra através de 18 artistas de Volta Redonda, será uma oportunidade única para a população poder conhecer um pouco de sua obra”. Em 1929, escreveu as suas primeiras composições, a embolada “Minha Viola” e a toada “Festa no Céu”, gravada por ele no ano seguinte pela Parlophon. Ainda em 1930, pela Parlophon, gravou para o Carnaval o samba “Com Que Roupa?”, vendendo 15 mil cópias! Foi um ano pródigo em produções, com mais de 20 músicas compostas, entre as quais, “Cordiais Saudações”, “Agora” e “Quem Dá Mais?”.

Tinha no improviso seu ponto forte, fazia uma “sintonia” muito grande com a platéia que o aplaudia sempre que usava de rimas precisas para completar o que ele chamava afetivamente de samba.

Seu carisma transpassa a barreira carioca, em 2006 no Teatro da Caixa,Paraná, cantores locais lançaram um cd comemorativo, cantando a trajetória do poeta. Muitos artistas lançaram cds comemorativos com músicas do poeta, entre eles: Ivan Lins, Maria Rita, Nélson Gonçalves, Martinho e Mart’nália, Beth Carvalho entre outros.

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CD Noel Rosa por Rui de Carvalho

Bárbara Lamas e Natália Louzada -

Rui passeia em Nila Isabel e "conversa" com Noel

Em 2008 o cantor e compositor Rui de Carvalho, nascido em Porto Velho, Rondônia, atualmente morador do Rio de Janeiro lançou o CD Noel Rosa por Rui de Carvalho que mereceu o seguinte comentário dos jornalistas Ubiratan Marques e Cadhu Cardoso: Um CD a altura do mestre. - “A real interpretação do samba, principalmente em se tratando de Noel Rosa, deve ser feita com muito suingue e muita manemolência e também deve ser capaz de passar a impressão do bom malandro ou boêmio, que na concepção carioca são sinônimos e Rui de Carvalho exibe com brilhantismo em um timbre de voz misto, entre João Nogueira e Agepê. É o que nos passa essa gostosa impressão, Também a forma coloquial com que as músicas são apresentadas e a firme na interpretação mostram a grandeza do intérprete, capaz de exaltar com muita elegância toda a graça que há por trás de músicas como: “Gago Apaixonado” e “Conversa de Botequim”; assim como mostra todo o romantismo sublime em faixas como: “Três Apitos” e “Fita amarela”. Rui ainda consegue um misto de alegria e tristeza na música “Feitio de Oração”, caracterizando bem a idéia de alegria numa triste melodia. Ou seja: Coisa de gente grande!”


Neste ano Rui já fez mais de dez shows em homenagem aos 100 anos de Noel. Além de Compositor e Interprete, ele é Artista Plástico e Designer Gráfico, autor de vários projetos importantes, com mais de 20 exposições individuais e 10 coletivas, com exposições realizadas no Brasil, Alemanha e Portugal. E Rui gentilmente nos cedeu uma entrevista sobre o poeta da vila:




Como começou a sua relação com a música de Noel Rosa?



Desde pequeno, quando morava em Manaus, ouvia as músicas de Noel e quando cheguei aqui no Rio em 1968, fui morar em Laranjeiras e depois comprei um apartamento na Tijuca ao lado de Vila Isabel, bem perto da rua Teodoro da Silva onde ele nasceu. Me encantei com as notas musicais nas calçadas do Boulervard 28 de Setembro e assim foi crescendo minha admiração pelo poeta.



O que diferencia a carreira e a vida pessoal de Noel de outros músicos, na sua opinião?



Vou fazer minhas, as palavras do Jornalista Sérgio Cabral: “ Qualquer pessoa que se dê ao trabalho de analisar a evolução da música brasileira verá que ela dá um salto quando surge Noel Rosa. Verá que, a partir de Noel nasce uma nova música, um novo samba. É que Noel Rosa foi dotado daquela capacidade reservada de raríssimos artistas – a de ser ao mesmo moderno e eterno”.



Noel viveu apenas 26 anos, mas sua carreira deixou um legado. Qual você considera a maior contribuição de Noel Rosa para música brasileira?




A simplicidade, a crônica, a belezae a genialidade de suas letras e melodias. Teve apenas sete anos para compor quase trezentas músicas e quase todas registradas ou gravadas, fora às que ele vendeu ou não assinou como parceiria. Morreu numa idade em que a maioria dos grandes compositores ainda estão começando.




Você acha que Noel é devidamente reconhecido por suas contribuições?



Sem dúvida alguma! A música de Noel continua mais viva do que nunca e não tem esse negócio de idade. As crianças cantam e adoram Noel e os mais velhos também. Tem sempre um artista gravando ou fazendo uma releitura de Noel e sempre será assim.



Qual sua composição predileta, e por que?



Muitas, cada uma tem um toque de genialidade! Noel é um ser iluminado.



Rui de Carvalho cantando Noel Rosa, Palpite Infeliz:




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A fábrica de tecidos e os três apitos...

Deborah Oliveira e Renata Tribuzzy -





A antiga fábrica de tecidos Confiança


O grande compositor Noel Rosa escreveu a música Três Apitos baseado na fábrica de tecidos Confiança localizada em Vila Isabel, onde hoje se encontra o Supermercado Extra Boulevard.





Extra Boulevard



A fábrica de fiação e tecidos foi fundada em Abril de 1885 representando o inicio da industrialização no Rio de Janeiro. Localizada na Rua Maxwell, a fábrica tinha ao seu redor vilas operárias e alguns casarões de maior porte. Ao longo do tempo, houve vasto crescimento em sua produção e, após a quebra da Bolsa de Nova York, teve como resultado a queda da produção e a demissão de alguns operários. Após isso, seu grande levante ocorreu em 1942 logo após a segunda Guerra Mundial, já que foi a única indústria atuante na produção dos uniformes para o exército brasileiro.


O estabelecimento foi desativado após 85 anos de atuação, e sua chaminé construída em 1894 ainda se mantém no mercado.


Uma das maiores inspirações de Noel eram as mulheres e com esta canção não foi diferente. Noel Rosa tinha um relacionamento com Clara, vizinha e conhecida da família. A moça era operária da fábrica, e seu grande admirador era atraído pelos apitos que indicavam o término do expediente de trabalho. Exibido como sempre foi, Noel passava em seu carro fazendo questão que sua presença fosse notada. Porém há controvérsias sobre a musa inspiradora da música. Existem relatos que mostram que a música não foi dedicada a Clara, mas sim à Josefina que trabalhava numa fábrica de botões localizada no Andaraí, e era um caso a parte ao seu namoro. Porém Não existem comprovações referentes à verdadeira homenageada pelo poeta, pois até o próprio não deixou claro sua intenção em 1936 quando disse que “outra operária de fábrica, se encaixaria nessa canção”.




Música: Três Apitos



Composição: Noel Rosa





Quando o apito



Da fábrica de tecidos



Vem ferir os meus ouvidos



Eu me lembro de você.







Mas você anda



Sem dúvida, bem zangada



E está interessada



Em fingir que não me vê.







Você que atende ao apito



De uma chaminé de barro



Por que não atende ao grito



Tão aflito,



Da buzina do meu carro.







Você no inverno



Sem meias vai pro trabalho,



Não faz fé com agasalho,



Nem no frio você crê.



Mas você é mesmo



Artigo que não se imita,



Quando a fábrica apita



Faz reclame de você.







Nos meus olhos você lê



Que eu sofro cruelmente



Com ciúmes do gerente



Impertinente



Que dá ordens a você.







Sou do sereno



Poeta muito soturno,



Vou virar guarda noturno



E você sabe por quê



Mas você não sabe



Que, enquanto você pano



Faço junto do piano



Estes versos pra você







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Intertextualidade entre as músicas: “Para que mentir?” de Vadico e Noel Rosa e “Dom de Iludir” de Caetano Veloso

Luanda Melo -

Para que mentir?
(Vadico e Noel Rosa)


Para que mentir
tu ainda não tens
Esse dom de saber iludir?
Pra quê? Pra que mentir,
Se não há necessidade
De me trair?

Pra que mentir
Se tu ainda não tens
A malícia de toda mulher?
Pra que mentir, se eu sei
Que gostas de outro
Que te diz que não te quer?

Pra que mentir tanto assim
Se tu sabes que eu sei
Que tu não gostas de mim?
Se tu sabes que eu te quero
Apesar de ser traído
Pelo teu ódio sincero
Ou por teu amor fingido?

Pra que mentir (noel rosa)



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Dom de Iludir
(Caetano Veloso)

Não me venha falar na malícia
de toda mulher
Cada um sabe a dor e a delícia
de ser o que é.
Não me olhe como se a polícia
andasse atrás de mim.
Cale a boca, e não cale na boca notícia ruim.
Você sabe explicar
Você sabe entender, tudo bem.
Você está, você é, você faz.
Você quer, você tem.
Você diz a verdade, a verdade
é seu dom de iludir.
Como pode querer que a mulher
vá viver sem mentir.

caetano veloso dom de iludir



A intertextualidade é como se fosse um "diálogo" entre textos, pressupõe um universo cultural muito amplo e complexo, pois implica na identificação e no reconhecimento de remissões a obras ou a trechos dela.

O poema-canção “Pra que mentir?” foi escrito por Noel Rosa em 1934, em parceria com o compositor paulista Osvaldo Glogliano, o Vadico. A música foi feita para Ceci, o grande amor de Noel. Dama de cabaré, Ceci chegou a viver um romance com o Poeta da Vila, mas, mesmo assim era de todos (e de ninguém). "Pra que mentir?" foi uma de suas últimas músicas, feita ao lado de Vadico.

Em 1982, Caetano Veloso compôs Dom de Iludir, estabelecendo uma imaginária correlação dialogal com o poema de Noel. A música de Caetano Veloso mantém um diálogo explícito com a de Vadico/Noel Rosa, como muitos poemas mantêm interação. O eu - lírico feminino de “Dom de Iludir” ironiza as acusações feitas em “Pra que mentir” expondo sua ideologia machista.

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Noel nas Redes Sociais

Priscilla Vitor e Leandro Gonçalves -

Não é novidade pra ninguém que com o advento da internet, um conjunto de benefícios se inseriram na vida pessoal e profissional das pessoas. Compartilhamos informações, trocamos ideias e opiniões sobre determinados assuntos e, literalmente, nos comunicamos com o mundo.

Com a explosão das redes sociais na vida de cada um, além de expormos nossa vida, podemos manifestar de maneira criativa também, a história de quem admiramos.

Noel Rosa quebrou barreiras. Não se encontra apenas no google, wikipédia e derivados. No orkut, por exemplo, se buscarmos comunidades sobre o poeta encontraremos nada mais nada menos que 64 delas (dados obtidos em novembro de 2009) com variados temas e debates envolvendo o cantor. No facebook, duas comunidades retratam o sambista.

Sabendo disso, o blog entrou em contato com o criador da maior comunidade sobre o poeta na rede social mais popular da internet: o orkut.

Flávio Cortez criou a comunidade em maio de 2004. Atualmente 31.047 membros fazem parte do site (lembrando que os números sofrem alterações constantemente), freqüentemente atualizado com posts variados sobre o cantor, que mesmo com uma breve passagem no mundo da mpb, deixa vestígios de sua música até hoje.


Comunidade criada por Flávio

Feitiço - Você é fã do Noel há quanto tempo? Como teve conhecimento da sua carreira e suas músicas, visto que você tem 24 anos, ou seja, vem de uma geração mais jovem, onde a música popular brasileira antiga não é tão disseminada?

FC - Eu sou fã de Noel há uns seis anos. Conheci o sambista através de outros artistas, numa espécie de "ponte". Conheci primeiro Elis, que me apresentou Milton e Jobim, que me apresentou Gal, Caetano... e nessa ponte acabei conhecendo Aracy e Noel, ou seja, precisei de artistas de gerações posteriores para chegar até ele. Acredito que esse é o grande problema para a expansão da obra do Noel, junto aos jovens. Falta informação e divulgação.

Feitiço - A comunidade existe desde 2004 e atualmente possui 31.047 membros. Por que, entre tantas outras, decidiu criá-la?

FC – Na época, achei um absurdo não ter nenhuma comunidade dele no orkut. E justamente para ajudar na divulgação, me senti obrigado a criá-la. Além, claro, de prestar uma homenagem ao grande artista.

Feitiço - Após a criação da mesma, chegou a imaginar que ela pudesse fazer tanto sucesso, sendo a primeira da lista na procura por comunidades do Poeta da Vila?

FC – Confesso que não. Até mesmo porque tantas outras comunidades, de artistas muito mais contemporâneos ou de apelo geral, não têm o mesmo número de membros. Eu só posso ficar contente com isso.

Feitiço - Possui alguma música do Noel que tenha sido tema de algum momento da sua vida? Se sim, qual?

FC – Muitas. Não consigo citar uma única. Sempre aparece uma ou outra, nessa ou naquela versão, para fazer parte do meu cotidiano.

Feitiço - Considera Noel um gênio atemporal da mpb?

FC – Sem dúvidas. A herança artística dele é muito rica. A influência é clara. Seja em grandes artistas, como Chico Buarque, ou naqueles que estão começando.

Feitiço - Noel Rosa x Wilson Batista. Acredita que a polêmica gerada entre os dois sambistas, felizmente gerou uma grande herança para a cultura brasileira?

FC – Com certeza. A musicalidade e o espírito criativo que os dois artistas usaram para compor as canções, do famoso embate, não só enriqueceu a obra deles, como se tornou um legado para a música brasileira.

Feitiço - Com você, onde anda Noel Rosa? Em algum cd/coletânea dentro de casa, mp4 ou esporadicamente, entre um dia ou outro no media player?

FC – Sempre no iPod. E em casa, em discos.

Feitiço - O que você tem de Noel?

FC – A boêmia.
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As Mulheres de Noel...

Alessandra Diamante, Azulmara Rodrigues, Luciene Hermann e Moisés Santos -

O que se pode concluir do universo feminino através da declaração de Noel, de que “a mulher é o aperitivo que anima o homem a comer o prato indigesto da vida”? A frase data de 1930, ano que marca seus vinte anos do pouco tempo em que viveu.

Noel devotou à mulher muitas de suas composições, quase sempre em resposta aos embaraços que se envolvia, já que não era homem de “aperitivo” único, e seu gosto era bem variado. Assim vivia um romance com sua primeira paixão, Fina, simultaneamente com Clara.

Na máxima “um é bom, dois é bom...”, três nunca seria demais! E no mesmo segundo semestre de 1932 que abarcava a relação Noel-Fina, Noel-Clara, é que se dá Noel-Julinha. Tudo isso faz crer que sua habilidade não era tão somente a musical.

CLARA
Namoro dos Tempos de Colégio...

Desde os tempos em que usava o uniforme do São Bento, onde cursava o ginásio, iniciara o namoro com Clara Corrêa Neto. Foram seis ou sete anos nos fins de tarde frente ao portão à espera do amado. Nem sempre seus anseios eram atendidos, já que ele eventualmente sumia e reaparecia com promessas. Ela por sua vez, estava sempre bem disposta a perdoá-lo como nos versos da canção Não morre tão cedo:

Você mostrou que tem bom coração
Sabe que estou sem a razão
Mas vem me dar o seu perdão
Você não trata a gente com desdém
Não guarda ódio de ninguém
E paga sempre o mal com bem

Quando o romance chegou ao fim, ela sofreu e muito! Noel marcaria tanto sua vida, que passados 49 anos do término do namoro, em entrevista para o livro de João Máximo e Carlos Didier, Noel Rosa: Uma Biografia, não negaria ter sido ele seu grande amor.

FINA
A primeira paixão...

Como não responder aos apelos da canção Três Apitos, feita para a operária Josefina Telles Nunes, que carrega em seus versos:

Você que atende ao apito de uma chaminé de barro
Porque não atende ao grito
Tão aflito
Da buzina do meu carro

Noel identificava-se com seu jeito alegre e sua sede de viver descompromissada.

JULINHA
Uma “Musa” ideal...

Júlia Bernardes era bem diferente de Clara e Fina. Sem recatos, alta, carregada de maquiagem, não tinha cabaré cativo e tão pouco namorado. Torna-se modelo perfeito para as músicas que serão geradas a partir de então: mentiras e falsidades nas regras baixas do jogo do amor. Ingredientes perfeitos para compor a receita do anti-romantismo de Noel, estabelecendo que o “eu te amo” nunca fará parte de suas canções. Para elas reservava as queixas dos relacionamentos vividos com uma pitada picante de ironia, uma de suas poderosas marcas.

LINDAURA
Na saúde, na doença, até que a morte os separe...

Tantos sambas renderam ainda a aquisição de um carro, apelidado por ele de Pavão. Em seu volante abrigava as moças das redondezas, assediadas por ele quando as provocava ao som da buzina. É na primavera de 1933 que Lindaura se rende ao cantor de rádio.
Morena, quando menina foi aluna de D. Martha, mãe de Noel. Aos 17 anos, seu corpo de mulher afastaria de qualquer memória a lembrança da garotinha da época da alfabetização.
Passam a sair todas as noites, sozinhos ou em companhia de outro casal. Dos passeios próximos ao bairro, passam a ousar cada vez mais partindo para locais distantes. Eis que uma das aventuras custaria uma cobrança cara a Noel. Dona Olindina, mãe de Lindaura, intolerante a um passeio mais que demorado da filha, decide insistir no casamento dos dois. D. Martha o acusa de ter seduzido menor de idade.
Às cobranças para que casasse, responde com os acordes de Capricho de Rapaz Solteiro:

A mulher é um achado
Que nos perde e nos atrasa
Não há malandro casado,
Pois malandro não se casa

O tempo passa e a pressão para o casamento não surte efeito.

CECI
Seu único “Amor”...

A bela Ceci. Foto: Divulgação / portal Diario do Nordeste

Muitas homenagens a artistas da música popular eram feitas nos cabarés da Lapa. Na noite que agraciava Noel no cabaré Apollo, a decoração ficou por conta do clima junino. Pista de dança intransitável. Todos aguardavam o músico. Noel teve que sair às escondidas de outra festa junina na Ilha do Governador, em que Lindaura estava com ele. Como não pretendia levá-la à noite de sua homenagem, só lhe restava a fuga.

Finalmente chega a atração principal da festa de São João do Apollo. Noel canta e num dado momento avista uma moça bem diferente das que circulam nos cabarés. Não seria a idade, jovem de dezesseis anos, tão pouco os trajes que usava. Mas por seu jeito tímido e delicado, tão contrastante ao cenário de um cabaré. De fato era a primeira noite de Juraci Correia de Moraes naquele ambiente. Uma Ceci bem diferente da cantada nos versos de Dama do Cabaré:

Foi num cabaré na Lapa
Que eu conheci você
Fumando cigarro
Entornando champanhe no seu soirée

O hábito de fumar e de trajar soirée passaria a ser algo natural em Ceci. Assim como os encontros com Noel para as danças, palestras e noites de amor. Encontros estes, interrompidos pela tuberculose a que foi acometido.

CASAMENTO...

O casal Lindaura e Noel. Foto: Blog Cidadão Quem

Dez dias antes de completar 24 anos, casa-se com Lindaura. Sua saúde já estava bem debilitada. Por orientação do médico ele deveria procurar um clima longe do Rio para sua recuperação. A esposa o acompanha para os cuidados em Belo Horizonte.
O tratamento da doença é longo, mas para Noel durou apenas o tempo que suportaria longe da boemia de Vila Isabel.
Volta no ano seguinte mais gordo e corado. Aparência boa para indicar que estava curado, quando na realidade havia apenas um controle da doença. É da voz de D. Martha que houve os nomes dos amigos que foram perguntar por ele. A descrição de uma moça bonita e elegante, não deixa dúvida de que Ceci o havia procurado. Descrente e irônico no quesito romantismo, lança mão à melodia de Ilustre Visita em parceria com Vadico:

E pelas informações que recebi
Ceci
A ilustre visita era você
Porque
Não existe nessa vida
Pessoa mais fingida

Nas apresentações posteriores, o título do samba muda para “Só pode ser você”. E o nome Ceci é cantado como “Já vi”, trecho, aliás, que só foi alterado por impulso na primeira apresentação.

A essa altura restava a Lindaura as amarguras de lidar com a ilusão de que o casamento lhe traria um novo Noel. Em uma queda, perdeu o bebê que seria o único filho do compositor. À ela coube a música Você vai se quiser, uma resposta de Noel ao seu interesse em trabalhar, já que em casa a situação não andava boa.

Segundo o fascículo MPB Compositores da Editora Globo, Lindaura declarou que o seu casamento foi um misto de alguns momentos hilários e outros tristes. Relatou que muitas vezes Noel a esquecia em alguns lugares. Em contrapartida, recorda também do marido apaixonado que teve. Tinha por hábito deixar bilhetinhos românticos para ela ler ao acordar, de manhãzinha. Antes do Poeta da Vila chegar da noitada!

AS MATRIARCAS...

Noel, em pé a direita, com a sua família. - Foto: Jornal O Dia

Humor, acidez, ironia, desilusão... atributos reunidos em 26 anos de uma vida em que a presença feminina sempre foi envolvente e impactante. Não poderíamos deixar de lembrar que o bandolim lhe foi ensinado por sua mãe, D. Martha. Tão pouco que seu primeiro contato com a morte se deu a através de sua avó D. Bella, que cometeu suicídio e foi o neto Noel o primeiro da família a vê-la.

ARACY
A grande intérprete...

Aracy de Almeida - Foto: divulgação / site letras.com.br


No campo da amizade, Aracy de Almeida. Dispensamos maiores comentários, frente as palavras do próprio Noel, em entrevista para “A Pátria”, em 4 de janeiro de 1936: "Aracy de Almeida é, na minha opinião, a pessoa que interpreta com exatidão o que eu produzo".

São registros que só couberam à sua existência e que, unidos aos muitos romances e noites afins que viveu, resultaram em suas mais de 300 composições. Não há dúvida de que o prato indigesto da vida pôde ser bem incrementado aos muitos aperitivos para todos os gostos e desgostos.

Uma voz se cala em 4 de maio de 1937.

Lindaura em prantos sobre o túmulo de Noel Rosa - Foto: Blog Cidadão Quem
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Anjos da Lua em “Uma noite... Noel Rosa”

Mayra Severo, Gabriela Patrício e Fabiano Skinner -

O DVD “Uma Noite... Noel Rosa” reuniu alguns artistas consagrados da música popular brasileira para homenagear, em dezembro de 2007, os 70 anos de morte do poeta da Vila. Alguns deles consagrados, como Ney Matogrosso e João Bosco, e outros representando a nova geração, como Roberta Sá, Diogo Nogueira e Rodrigo Maranhão. Dentre esses nomes, a banda Anjos da Lua, conhecida na noite carioca, acompanhou esses artistas que cantaram as canções mais conhecidas de Noel, tal como “Filosofia”, “Um gago apaixonado”, “Conversa de Botequim”, “Feitiço da Vila”, entre outras.

O projeto composto por CD e DVD teve direção de João Mário Linhares e Ricardo Moreira, sendo lançado pelo selo MP,B Discos, com distribuição da Universal Music. De acordo com a crítica, apesar de não apresentar grandes novidades, a ideia teve um bom resultado através da mistura de bons intérpretes com as composições de Noel, que têm grande significado para a música popular brasileira.

A respeito dessa importância, o FEITIÇO DO NOEL conversou com alguns integrantes do grupo “Anjos da Lua”, após de uma de suas apresentações semanais na casa noturna Democráticos, na Lapa - reduto do samba e da boemia carioca. A banda representa a nova geração de músicos que revivem o samba de raiz perdido por algum tempo, tendo no repertório músicas de Noel, Cartola, Jacob do Bandolim e outros nomes. Confira abaixo os depoimentos.


Integrantes: Gallotti (cavaquinho e voz), Rubinho Jacobina (violão e voz), Sandrinho (tan-tan), Pedro Miranda (percussão e voz), Pedro Hollanda (violão e voz) e Mariana Bernardes (cavaquinho e voz). Foto: Divulgação / Anjos da Lua

Quem teve a idéia do projeto “Uma noite... Noel Rosa”?

Nano Ribeiro (produtor) – Na verdade, quem fez o projeto foi o Dr. Guilherme que é um músico, além de médico, que toca tan-tan e dá canja com o Anjos da Lua há 10 anos. Ele se juntou com o pessoal da MP, B Produções, com a Rádio MPB, com o Canal Brasil e juntos tornaram viável o projeto para os artistas dessa produtora, que são o Zé Renato, Ney Matogrosso, João Bosco, Roberta Sá e Rodrigo Maranhão. A ideia era comemorar o centenário de Noel Rosa.

Qual a influência de Noel Rosa na sua formação musical?

Sandrinho (tan-tan) – Eu sou um cara que cresci em comunidade carente e apesar de ter conseguido o acesso a certo grau de cultura, sei que grande parte do meu povo ainda não tem conhecimento dessa cultura. Eu não sei o que acontece, não sei se é porque está todo mundo tão acostumado com essa coisa que é imposta pela mídia ou se o povo tem preguiça de pensar. Mas, é uma pena que a obra dele não chegue ao pobre, à favela, ao morro, que é onde teve origem à música de Noel. Eu gosto muito de ‘Com que roupa’, é uma ótima música.

Qual a importância de Noel Rosa para a música popular brasileira?

Nano – Se você levar em consideração que Noel Rosa morreu jovem, antes de completar 30 anos, e conseguiu fazer quase 300 músicas, e com composições atuais, ou melhor, são atemporais e originais e consequentemente moderno. Noel estava muito a frente de seu tempo. A sua importância é devido à originalidade, ele era uma espécie de cronista da época que falava de vários temas humanos, como prostituição, malandragem, do governo que roubava o trabalhador, enfim, temas do cotidiano.

Eduardo Galloti (cavaquinho e voz) – Ele deixou uma obra maravilhosa para a gente cantar, tocar e fazer o povo dançar, além de pensar. E melodicamente, também deixou uma contribuição muito grande. As músicas feitas com seus parceiros, como o Vadico, eram melodias muito bonitas.

Alexandre Affonso (produtor) – Acredito na forma como ele se coloca como referência, no campo artístico, no comportamental, na poesia, nas letras, no estilo, na obra em si. Noel tem uma espécie de bandeira fincada que serve de referência para todas as gerações que passam por ela. O samba se reinventa quando as novas gerações descobrem a raiz, o verdadeiro samba, originário. Então o Noel é uma espécie de Fênix que está sempre se renovando.

O que Noel representa para vocês?

Pedro Hollanda (violão e voz) – O estilo de vida dele em Vila Isabel. Ele era da classe média, mas dava valor ao subir o morro e ter contato com o cotidiano das pessoas comuns, o que fez dele uma pessoa com uma vida muito intensa, curta, porém intensa, o que para o sambista, é um exemplo. Para mim, quando comecei a ter contato com o samba foi um exemplo, um estilo de vida próprio.

Sandrinho – A boemia, o cara engraçado, que fala da mulher. Muito dos sambas dele são cômicos e falam do cotidiano, da enchente, falta luz, falta gás. Ele usou tudo que temos na cidade de bom e de ruim para falar através de suas poesias. Ele é o cara!

O samba de ontem e o samba de hoje

Galloti – Noel Rosa, para mim, é talvez o cara mais importante da história do samba porque foi a primeira pessoa que concedeu o samba da forma como ele é hoje. Pois até Noel, o samba era muito ‘amaxixado’ tinha muita influência européia e da macumba. E apesar dele ser um cara que tinha estudo, ele freqüentava os morros, do Estácio, da Mangueira, e essa convivência o fez levar a percussão que era ouvida no samba de morro para os estúdios. Ou seja, não tinha como o samba ser tocado com piano, daquele jeito ‘amaxixado’. E ele sabia o que precisava para modificar aquele samba, que era a introdução da percussão. O único instrumento que se usava até então de percussão era o pandeiro.

Qual é o projeto atual da banda Anjos da Lua?

Alexandre - O projeto Anjos da Lua desenvolve semanalmente, desde 2002, a busca do resgate cultural da Lapa. Renovar a identidade da cidade através do resgate da cultura, uma vez que a Lapa sempre foi o berço da cultura do Rio de Janeiro. A banda tem o papel pioneiro, pois está já há algum tempo tocando para a moçada grandes clássicos do samba.




Reprodução da capa e do verso do CD "Uma noite... Noel Rosa" do grupo Anjos da Lua
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Feitiço do Noel é citado no Observatório da Imprensa

Vitor Costa -

O Blog Feitiço do Noel foi citado pelo site do Observatório da Imprensa, na seção "Netbanca" que apresenta sugestões de pesquisas e boas leituras na web. Além do Feitiço do Noel, foram citados também o blog da Revista do Rádio e o blog que remonta a história do Jornal dos Sports, o Memória JS. Todos eles são produzidos por alunos do professor PC Guimarães, em suas turmas na FACHA Méier e Botafogo.

Reprodução do site Observatório da Imprensa que cita os blogs dos alunos da FACHA, entre eles, o Feitiço do Noel.
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Obituário - Como a imprensa noticiou a morte de Noel Rosa

Vitor Costa e Luanda Melo -

Noel Rosa morreu no dia 4 de maio de 1937. No dia seguinte, os jornais da época deram o devido destaque a morte do homem franzino, frágil fisicamente, mas que se tornou forte e grandioso culturalmente por sua vasta produção de belas composições.

Noel morreu com 26 anos, mas mesmo com pouco tempo de vida, através das manchetes e alguns trechos de reportagens que aqui reproduzimos, conseguimos medir a profundidade do que representava o “poeta da Vila” no contexto da época. Enquanto alguns periódicos foram sucintos nas chamadas, alguns trouxeram já pela manchete a amplitude de Noel.


Reprodução de uma nota do Jornal do Brasil sobre a morte de Noel Rosa (fonte: Biblioteca Nacional)

Manchetes dos jornais – data: Quarta-feira, 05 de maio de 1937.


O Jornal - Falleceu O Compositor Noel Rosa - Era Autor De Numerosas Musicas Populares

Diário de Notícias - Falleceu Noel Rosa - O Conhecido Compositor Morreu Ouvindo Cantar Uma Musica De Sua Autoria

Diário Carioca - Noel Rosa - Falleceu Hontem O Maior Cantor Da Alma Carioca

Correio da Manhã - A Morte Prematura De Noel Rosa - Foi, Hontem, Sepultado, O Popular Cantor Do Radio

Diário da Noite - Morreu Cantando Noel Rosa A Figura Mais Popular Dos Nossos Compositores

A Noite - Morreu Noel Rosa

Abaixo, a transcrição da matéria do jornal “A Noite”:

Morreu Noel Rosa. A cidade chora, nesta noticia, o desapparecimento do expoente maximo do sambista carioca.
A letra era repleta de uma philosophia humana. Sentira a necessidade de ambientar a musica que vivia nos morros ao convivio da cidade. Fez letras onde o malandro e o jogo de chapinha não entravam. Traduzia a propria vida em ritmos e melodias.
É seu esse samba canção: "Naquelle tempo em que você era pobre / Eu vivia como nobre / A gastar meu vil metal / E, por minha vontade / Você foi para a cidade / Esquecendo a solidão / E a miseria daquelle barracão./ Tudo passou tão depressa, / Fiquei sem nada de meu / E esquecendo a promessa, / Você me esqueceu, / E partiu, com o primeiro que appareceu / Não querendo ser pobre como eu." Dizem que essa historia foi vivida.
O morro era para elle motivo de verdadeiras chronicas musicais. "Mangueira" é um exemplo disso.
Seu primeiro sucesso foi "Com Que Roupa". Nesse tempo, prosseguindo os estudos, elle ingressava na escola de Medicina. Em pouco tempo, porém, abandonava os estudos, dedicando-se, inteiramente, á arte que o empolgára. Venceu, em toda linha, plenamente, quer como autor quer como violonista. Costumava, constantemente, interpretar, frente ao microphone, suas producções. É enorme a sua bagagem musical.
Noel Rosa morreu, victimado por um collapso cardiaco, em sua residencia, á rua Theodoro da Silva. E - suprema ironia do destino!

Aqui, como “O Jornal” deu a morte de Noel:

Á meia-noite de hontem falleceu, nesta capital, em sua residencia, á rua Theodoro da Silva, 382, o compositor de sambas e marchas, Noel Rosa.
Era uma figura sympathica das rodas radiophonicas e dos nossos musicistas mais populares.
Muitas de suas producções como "Tarzan, O Filho do Alfaiate" e "Maria Fumaça", tiveram um exito extraordinario. Mas o seu samba que mais agradou, foi, sem duvida, "Palpite Infeliz". De alguns annos para cá, não havia Carnaval completo sem musica de Noel Rosa.
Encontrava-se elle enfermo ha varias semanas e os que o conheciam nada auguravam de bom, dado o seu physico franzino. Entretanto, ainda recentemente, concedeu uma alegre entrevista a uma de nossas revistas de radio, traçando então os seus planos para o futuro. Não quiz o destino que se justificasse o seu optimismo.
O enterro sae, ás 16 horas, de hoje, do referido endereço, para o cemiterio de S. Francisco de Assis.

Agora, como divulgou o “Diario de Notícias”:

Noel Rosa era um de nossos mais conhecidos compositores populares. Suas musicas nunca deixavam de alcançar sucesso nas temporadas carnavalescas.
Havia mezes vinha elle soffrendo de pertinaz molestia, que lhe tirava toda a alegria.
Hontem, á noite, em frente á sua residencia, á rua Theodoro da Silva, 382, em Villa Isabel, realizava-se uma festa familiar.
Os rapazes, que compunham a orquestra, resolveram prestar uma homenagem a Noel, cantando em voz alta, o samba-desafio, de sua autoria, intitulado "De Babado Sim..."
O compositor popular, que regressára havia tres dias, de Pirahy, onde fôra mudar de ares, ao ouvir a musica, teve um estremecimento e morreu, talvez de emoção.
O seu enterro será realizado hoje á tarde, sahindo o feretro do endereço acima.

Um verdadeiro artista se perpetualiza através de suas obras. Noel Rosa é um exemplo de um artista que mesmo sendo efêmero, se imortalizou pela magnitude de suas composições. Noel Rosa não morreu! Ele vive em cada calçada da 28 de setembro, em cada roda de samba e em cada mente que “saboreia” as suas músicas, cantadas até hoje em verso e prosa.

“Se alguma pessoa amiga pedir que você lhe diga
Se você me quer ou não, diga que você me adora
Que você lamenta e chora a nossa separação.”

Versos da música “Último desejo” de Noel Rosa

1910 - 1937
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Aqui nasceu a nobreza do samba

Daniel Cunha -

Foto da fachada do edifício Noel Rosa, que atualmente está localizado no espaço onde era o chalé em que o "poeta da Vila" nasceu


Noel Rosa nasceu em um chalé na rua Teodoro Silva nº 30, no bairro de Vila Isabel, no dia 11 de dezembro de 1911 e lá morreu, em 4 de maio de 1937. Hoje, sua casa já não existe mais e a numeração mudou para nº 392. Em 1956, foi construído no local um edifício em homenagem ao poeta da Vila.

Segundo José Gerônimo, porteiro do Edifício Noel Rosa há 39 anos, todos os moradores tem muito orgulho da história do local e apesar do chalé não existir mais, a obra de Noel é eterna.

Segundo Claudia Paiva, moradora do terceiro andar do edifício, é uma pena que as antigas casas da rua não tenham sido preservadas.

- “Se a casa de Noel não tivesse sido demolida, hoje com certeza seria um patrimônio nacional e local de visitas. Meu pai, Antônio Paiva, que comprou o apartamento, desde jovem cantava as músicas do Poeta da Vila, assim acabei me tornando uma grande admiradora.”
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Coisas de Noel agora são Nossas

Patrícia Barros, Bruno Anacleto, Keity, Crislaine, Giovani Falcão, Jonathan, Miguel, Hebert -


Herinque Cazes fala sobre sua dedicação a Noel Rosa


Henrique Cazes é carioca, nascido em 1959. Integrou o conjunto “Coisas Nossas” em 1976, desde sua fundação, e sempre desenvolveu um trabalho ligado ao samba e principalmente ao choro. O músico e pesquisador começou a tocar violão na infância, quando se especializou no cavaquinho. Diretor da Orquestra Pixinguinha no início dos anos 90, Cazes e Cristina Buarque gravaram o disco "Sem tostão... a crise não é boato", inteiramente dedicado à obra de Noel Rosa. Além disso, já publicou vários livros, entre eles: "Escola moderna do cavaquinho" e "Choro - do quintal ao Municipal”.

Para entender melhor toda a intimidade com a obra de Noel Rosa e seus ensinamentos, o Blog Feitiço de Noel foi procurar com Henrique Cazes, qual seria a maior mensagem que o grande poeta da Vila deixou para encantar seus seguidores. Além de contar fatos e histórias sobre diversos trabalhos do “Coisas Nossas” ligados ao sambista.

Feitiço do Noel - O início da sua carreira se deu com o grupo instrumental e vocal “Coisas Nossas”, que além de levar o nome de uma das músicas de Noel Rosa, tem seu trabalho dedicado à obra Noelesca. Em 1978, o grupo fez sucesso com o show intitulado “Sempre Livre” e no ano de 83 lançaram o disco “Noel Rosa, Inédito e Desconhecido”. Já em 1987 viajaram por diversas capitais brasileiras realizando o show “Uma Rosa para Noel”. Como surgiu a idéia de formar um grupo formado por amantes das obras de Noel? Como era a repercussão do “Coisas Nossas” naquela época?

Henrique Cazes - O Conjunto Coisas Nossas foi uma grande escola, de música, palco e produção. Nós fazíamos tudo, desde tocar, cantar, compor e até carregar e operar a aparelhagem de som. Noel foi nosso ponto de partida em 1976, com um ciclo de 80 músicos em 5 semanas de show, onde aconteciam mudanças de formação a cada semana. Também pesquisamos o repertório de Carnaval (especialmente dos anos 1920). Tocamos com Marília Baptista, Aracy de Almeida, Marlene, Emilinha, Moreira da Silva e Eduardo Dusek. Uma turma bem variada.


Feitiço do Noel - O que aconteceu com o grupo depois? Como está a atual situação dos músicos que integraram essa iniciativa? Estão fazendo parte de algum projeto? Algum ligado ao Noel?

Henrique Cazes - Apesar de termos trabalhado muito o resultado profissional foi muito fraco e os integrantes foram aos poucos assumindo outros compromissos. Eu, o Beto Cazes e o Dazinho (Edgard Gonçalves) fomos participar da Camerata Carioca, que foi um grupo instrumental criado em 1979 por ocasião do evento "Tributo a Jacob do Bandolim". O Aloísio Didier (Luíta) foi trabalhar na TV Globo. O irmão dele, Carlos (Caola) deixou a música e foi para o mercado financeiro, já o Oscar Bolão continuou tocando com todo mundo. O conjunto nunca acabou, só fica hibernando. Outra coisa importante é que no ano que vem, quando será o centenário do Noel, vamos remontar a trupe.


Feitiço do Noel - Noel Rosa deixou mais de 200 canções, contando inúmeros clássicos. Suas músicas faziam relatos do cotidiano com elementos socioculturais característicos do Brasil da década de 30. Músicas criticando a avareza, além de diversas composições sobre o bairro da Penha (bairro mais cantado pelo artista). Outra curiosidade é a famosa polêmica entre ele e Wilson Batista. Como você interpreta o Noel compositor? A MPB mantém esse “Estilo Noel Rosa”, que fala do homem comum na sociedade?

Henrique Cazes - Noel foi pioneiro em muitos aspectos. Ele subiu os morros do Rio e fez parcerias com os compositores dessas comunidades. Inventou formas de samba e mostrou caminhos que outros seguiram nas décadas seguintes. Ele foi diferente porque era um gênio com atitude. Não há dúvida, que a partir dele o jeito carioca de falar tornou-se dominante na MPB. Sua influência é notável.


Feitiço do Noel - O disco “Sem tostão...a vida não é um boato” foi uma parceria sua com a cantora Cristina Buarque; um álbum inteiramente dedicado a obra de Noel e teve sua gravação no boteco BipBip. A gravação foi descontraída e muito elogiada pelo público. Nela você contou alguns casos bem-humorados s obre Noel. Você poderia contar algum? Qual seu preferido?

Henrique Cazes - Gosto muito da história do malhado: o seresteiro obtuso. Noel Rosa gostava das madrugadas e quando não tinha carro, escalava motoristas de táxis para acompanhá-lo no périplo noturno. Um desses motoristas tinha o apelido de Malhado, em função do vitiligo. Ele possuía uma voz possante que gostava de exibir em serenatas e vivia pedindo a Noel uma música em que pudesse exibir seus dotes vocais. Noel percebeu um detalhe interessante, Malhado cantava valsa e canções com palavras difíceis que ele não conhecia o significado, diante disso resolveu compor uma canção para o amigo motorista.
Depois de pronta a composição, Noel ensinou versos e melodia para Malhado e combinou de fazerem a estréia da obra numa serenata para as filhas de um coronel de Vila Isabel. Chegando na frente do sobrado do coronel, Noel disse que ficaria do outro lado da rua para dar o destaque que a voz de Malhado merecia. Feriu o tom e o cantor atacou com seguinte verso:

“Saí da tua alcova,
Com o prepúcio dolorido
Deixando seu clitóris gotejante
De volúpia emurchecido
Porém o gonococos da paixão
Aumentou minha tensão”

O coronel levantou atirando. Malhado correu para a esquina onde Noel já o esperava. Lívido parou diante do “Poeta da Vila” que o consolou dizendo: “Isso é pra você ver, Malhado, o que é a falta de sensibilidade dessa gente”.


Feitiço do Noel - No aniversário de 70 nos da morte de Noel foi montado pela Prefeitura um grande palco em frente ao famoso bar “Petisco da Vila”. Na época a TV Globo até gravou alguns trechos para o jornal local. A festa teve você como mestre de cerimônias, que tecia comentários sobre a vida, obra e curiosidades de Noel Rosa antes de cada música. Conte como foi esse evento.

Henrique Cazes - Foi ótimo. Noel em Vila Isabel dá sempre certo. Fez uma noite bonita e tivemos uma média de 5.000 pessoas na rua, na maior tranqüilidade, tipo cadeira na calçada. Pensando nisso, o Martinho da Vila me chamou para fazermos uma noite de Noel na quadra da escola, em 19 de dezembro. O que demonstra que o bairro nunca esqueceu seu poeta e sua música está escrita nas calçadas do Boulevard.

Feitiço do Noel - Quando Noel iria completar 90 anos de idade você e Cristina Buarque lançaram o segundo disco em homenagem a Noel, chamado de “Sem Tostão 2... a crise continua”. Em 2007, houve um grande evento na Vila Isabel em homenagem aos 70 anos da morte de Noel. No ano que vem com o centenário dele, você tem algum projeto em vista?

Henrique Cazes – Sim. Tenho muitos projetos envolvendo a música em si que gostaria de realizar como espetáculos, regravações de parte da obra em homenagem a Noel, uma série de programas de rádio, um musical reunindo as três operetas radiofônicas entre outros. Tenho muita vontade de concretizar todos esses projetos, mas para que tudo isso aconteça vamos precisar de patrocínios e incentivos à cultura.

Feitiço do Noel - Hoje você é um músico consagrado, cavaquinista, violonista, arranjador e chorão. Comente um pouco da influência pessoal de Noel Rosa sobre suas obras e qual música do Noel você mais gosta?

Henrique Cazes - Foi por causa do Noel que me tornei músico profissional e não um futuro químico. Eu tinha apenas 17 anos quando mergulhei na obra dele. Influenciado por suas músicas e figura boemia entrei no grupo Coisas Nossas que, consequentemente, mudou a minha vida para sempre. O Jota Canalha - meu personagem “alterego” de humor – é um discípulo do Noel.

Feitiço do Noel - O que você destacaria na personalidade de Noel Rosa? Tem algo que te chama mais atenção?

Henrique Cazes - O que é mais inacreditável é que, com fama de preguiçoso, ele fez
tudo que fez e morreu com 26 anos. Ele era organizado internamente e externamente parecia um esculhambado.

Feitiço do Noel - É muito curioso que um homem com uma vida tão breve, tenha contribuído de forma tão enriquecedora para a música brasileira. Quais são os clássicos de Noel que de alguma forma pontuaram a vida dele?

Henrique Cazes - A música “Com que roupa” o deixou famoso. E outras como: “Feitiço da Vila” com seu amor pelo bairro, “Conversa de botequim” em crônica e um máximo, “Último desejo” um sofrimento barra pesada e “Pastorinhas” que no Carnaval seguinte a sua morte já anunciava que ele seria eterno.

Feitiço do Noel - Noel Rosa participou de um grupo de samba denominado “Bando dos Tangarás”. O fato de o sambista ter feito parte do grupo contribuiu para surgir a ideia do grupo Coisas Nossas? Existe alguma semelhança entre os dois grupos?

Henrique Cazes - Apesar do humor como ponto em comum, acho que os grupos eram bem
diferentes. Os Tangarás eram amadores e até se escondiam atrás de pseudônimos. O sucesso para eles foi lucro líquido. O “Coisas Nossas” nasceu para ser profissional, e pagou uma conta alta por isso.
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Noel Rosa

Noel Rosa foi um marco na música popular brasileira. Um dos responsáveis pelo samba moderno e por ter trazido o samba as rádios, além de aproximar o samba do morro com o asfalto. Suas letras são atuais até hoje, assim como os textos de Shakespeare, pois tratam de temas inerentes ao ser humano. Apesar disso, o cantor, compositor, bandolinista, violonista ainda é pouco conhecido pela grande maioria das pessoas. Mesmo tendo vivido apenas 26 anos, o suficiente para deixar seu nome entre os maiores do samba carioca, Noel deixou mais de 200 composições gravadas. Entre elas inúmeros clássicos indiscutíveis como "Palpite Infeliz", "Feitiço da Vila", "Conversa de Botequim", "Último Desejo", "Silêncio de um Minuto", "Pastorinhas" e "Com Que Roupa?". Em 2010, se estivesse vivo, Noel Rosa completaria 100 anos. Para comemorar esta data decidimos fazer este blog em sua homenagem.
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