Mayra Severo, Gabriela Patrício e Fabiano Skinner -
O DVD “Uma Noite... Noel Rosa” reuniu alguns artistas consagrados da música popular brasileira para homenagear, em dezembro de 2007, os 70 anos de morte do poeta da Vila. Alguns deles consagrados, como Ney Matogrosso e João Bosco, e outros representando a nova geração, como Roberta Sá, Diogo Nogueira e Rodrigo Maranhão. Dentre esses nomes, a banda Anjos da Lua, conhecida na noite carioca, acompanhou esses artistas que cantaram as canções mais conhecidas de Noel, tal como “Filosofia”, “Um gago apaixonado”, “Conversa de Botequim”, “Feitiço da Vila”, entre outras.
O projeto composto por CD e DVD teve direção de João Mário Linhares e Ricardo Moreira, sendo lançado pelo selo MP,B Discos, com distribuição da Universal Music. De acordo com a crítica, apesar de não apresentar grandes novidades, a ideia teve um bom resultado através da mistura de bons intérpretes com as composições de Noel, que têm grande significado para a música popular brasileira.
A respeito dessa importância, o FEITIÇO DO NOEL conversou com alguns integrantes do grupo “Anjos da Lua”, após de uma de suas apresentações semanais na casa noturna Democráticos, na Lapa - reduto do samba e da boemia carioca. A banda representa a nova geração de músicos que revivem o samba de raiz perdido por algum tempo, tendo no repertório músicas de Noel, Cartola, Jacob do Bandolim e outros nomes. Confira abaixo os depoimentos.
Quem teve a idéia do projeto “Uma noite... Noel Rosa”?
Nano Ribeiro (produtor) – Na verdade, quem fez o projeto foi o Dr. Guilherme que é um músico, além de médico, que toca tan-tan e dá canja com o Anjos da Lua há 10 anos. Ele se juntou com o pessoal da MP, B Produções, com a Rádio MPB, com o Canal Brasil e juntos tornaram viável o projeto para os artistas dessa produtora, que são o Zé Renato, Ney Matogrosso, João Bosco, Roberta Sá e Rodrigo Maranhão. A ideia era comemorar o centenário de Noel Rosa.
Qual a influência de Noel Rosa na sua formação musical?
Sandrinho (tan-tan) – Eu sou um cara que cresci em comunidade carente e apesar de ter conseguido o acesso a certo grau de cultura, sei que grande parte do meu povo ainda não tem conhecimento dessa cultura. Eu não sei o que acontece, não sei se é porque está todo mundo tão acostumado com essa coisa que é imposta pela mídia ou se o povo tem preguiça de pensar. Mas, é uma pena que a obra dele não chegue ao pobre, à favela, ao morro, que é onde teve origem à música de Noel. Eu gosto muito de ‘Com que roupa’, é uma ótima música.
Qual a importância de Noel Rosa para a música popular brasileira?
Nano – Se você levar em consideração que Noel Rosa morreu jovem, antes de completar 30 anos, e conseguiu fazer quase 300 músicas, e com composições atuais, ou melhor, são atemporais e originais e consequentemente moderno. Noel estava muito a frente de seu tempo. A sua importância é devido à originalidade, ele era uma espécie de cronista da época que falava de vários temas humanos, como prostituição, malandragem, do governo que roubava o trabalhador, enfim, temas do cotidiano.
Eduardo Galloti (cavaquinho e voz) – Ele deixou uma obra maravilhosa para a gente cantar, tocar e fazer o povo dançar, além de pensar. E melodicamente, também deixou uma contribuição muito grande. As músicas feitas com seus parceiros, como o Vadico, eram melodias muito bonitas.
Alexandre Affonso (produtor) – Acredito na forma como ele se coloca como referência, no campo artístico, no comportamental, na poesia, nas letras, no estilo, na obra em si. Noel tem uma espécie de bandeira fincada que serve de referência para todas as gerações que passam por ela. O samba se reinventa quando as novas gerações descobrem a raiz, o verdadeiro samba, originário. Então o Noel é uma espécie de Fênix que está sempre se renovando.
O que Noel representa para vocês?
Pedro Hollanda (violão e voz) – O estilo de vida dele em Vila Isabel. Ele era da classe média, mas dava valor ao subir o morro e ter contato com o cotidiano das pessoas comuns, o que fez dele uma pessoa com uma vida muito intensa, curta, porém intensa, o que para o sambista, é um exemplo. Para mim, quando comecei a ter contato com o samba foi um exemplo, um estilo de vida próprio.
Sandrinho – A boemia, o cara engraçado, que fala da mulher. Muito dos sambas dele são cômicos e falam do cotidiano, da enchente, falta luz, falta gás. Ele usou tudo que temos na cidade de bom e de ruim para falar através de suas poesias. Ele é o cara!
O samba de ontem e o samba de hoje
Galloti – Noel Rosa, para mim, é talvez o cara mais importante da história do samba porque foi a primeira pessoa que concedeu o samba da forma como ele é hoje. Pois até Noel, o samba era muito ‘amaxixado’ tinha muita influência européia e da macumba. E apesar dele ser um cara que tinha estudo, ele freqüentava os morros, do Estácio, da Mangueira, e essa convivência o fez levar a percussão que era ouvida no samba de morro para os estúdios. Ou seja, não tinha como o samba ser tocado com piano, daquele jeito ‘amaxixado’. E ele sabia o que precisava para modificar aquele samba, que era a introdução da percussão. O único instrumento que se usava até então de percussão era o pandeiro.
Qual é o projeto atual da banda Anjos da Lua?
Alexandre - O projeto Anjos da Lua desenvolve semanalmente, desde 2002, a busca do resgate cultural da Lapa. Renovar a identidade da cidade através do resgate da cultura, uma vez que a Lapa sempre foi o berço da cultura do Rio de Janeiro. A banda tem o papel pioneiro, pois está já há algum tempo tocando para a moçada grandes clássicos do samba.
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