Pedro Milward -
Falar de Noel de Medeiros Rosa é dissertar sobre samba, amor e dor. Ao que se parece, elementos diferentes, foram os combustíveis da vida relâmpago e intensa do poeta da Vila, o filósofo do Samba.
Capa do vinil "Noel Rosa - Inédito e Desconhecido" de 1983.
Dono de um dom sobrenatural aprendeu o bandolim com sua mãe (Marta) e os segredos do Violão com seu pai (Manuel de Medeiros Rosa), na verdade tornou-se mesmo autodidata. Aos 15 anos de idade ele já fazia suas primeiras aparições, tanto no ramo do samba quanto boêmia.
Ao decorrer do tempo, visando seu destino, deixou de lado o curso de medicina, tão sonhado pelos pais, em 1932, já não freqüentava as aulas. Perdia-se um mau médico, ganhava-se um bom sambista. Da medicina a única coisa que aproveitou foi a inspiração para fazer um “samba anatômico”, chamado Coração. Pela fama adquirida na Vila, como bom violonista em 1929 foi chamado para compor Os Tangarás, ao lado de João de Barro, Almirante, e Henrique Brito. Infelizmente não foi para frente, com o sentimento no peito de prisão, sentia que estava fazendo samba para poucos, era samba para Branco, somente para aqueles que tinham dinheiro no Banco. Sabendo de sua necessidade de chegar ao povo e muitos mais ouvidos, encontrou em grandes sambistas de terreiro, o verdadeiro sabor do samba, onde estava à raiz, aprendeu a amar todos com muito respeito, os sambistas e seus terreiros: Ismael Silva, Cartola, Wilson Batista e alguns outros. Os terreiros: Estácio, Salgueiro, Mangueira, Oswaldo Cruz, Matriz entre outras rodas pelo Rio.
Em 1931, Noel se depara com três problemas que ele acaba resolvendo com um samba só:
Seu pai, que trabalhará a vida todo para sustentar sua família, em um rompante de loucura, decide inventar, Deixando de lado o serviço fixo de anos para criar, achava que com a crise americana, era o momento certo de revolucionar para conquistar o mercado. Seu único problema era a falta de talento, diferente do próprio filho que ele mesmo reverenciava: - Você cria um verso a cada vez que tosse!
Com a escassez no orçamento, desgaste da Boêmia e um inusitado jogo de esconde-esconde de roupas.
Com a escassez no orçamento, desgaste da Boêmia e um inusitado jogo de esconde-esconde de roupas.
Com suas próprias palavras Noel explica sua solução:
- “Com sangue de boêmio, eu passei a chegar em casa, em determinada época, a altas horas da noite. Vinha de festas, ou de serenatas, ou de simples conversa. Mas, o fato é que essa vida passada toda em claro devia prejudicar a minha saúde. Foi o que aconteceu. Comecei a emagrecer assustadoramente. Adquiri umas olheiras dramáticas e minha mãe se assustava. Pressentiu antes de ninguém meu estado”.
- “ Preocupada com minha saúde minha mãe escondeu minhas roupas. Justamente num dia que meus amigos vieram me buscar para uma festa. – “ Como é Noel, vamos para o Baile? “ E eu, dentro do quarto, mas com que roupa? Mal eu tinha acabado de soltar a frase, quando ocorreu0me a inspiração de fazer um samba com esse tema. Foi um barulho, todo mundo cantou. É assim que faço as minhas coisas.”
Essa música foi gravada para o carnaval de 1931 e foi transmitida pelos alto-falantes dos clubes carnavalescos sendo o maior sucesso, onde vendeu 15.000 discos.
Com Que Roupa?
Noel Rosa
Agora vou mudar minha conduta, eu vou pra luta- “Com sangue de boêmio, eu passei a chegar em casa, em determinada época, a altas horas da noite. Vinha de festas, ou de serenatas, ou de simples conversa. Mas, o fato é que essa vida passada toda em claro devia prejudicar a minha saúde. Foi o que aconteceu. Comecei a emagrecer assustadoramente. Adquiri umas olheiras dramáticas e minha mãe se assustava. Pressentiu antes de ninguém meu estado”.
- “ Preocupada com minha saúde minha mãe escondeu minhas roupas. Justamente num dia que meus amigos vieram me buscar para uma festa. – “ Como é Noel, vamos para o Baile? “ E eu, dentro do quarto, mas com que roupa? Mal eu tinha acabado de soltar a frase, quando ocorreu0me a inspiração de fazer um samba com esse tema. Foi um barulho, todo mundo cantou. É assim que faço as minhas coisas.”
Essa música foi gravada para o carnaval de 1931 e foi transmitida pelos alto-falantes dos clubes carnavalescos sendo o maior sucesso, onde vendeu 15.000 discos.
Com Que Roupa?
Noel Rosa
pois eu quero me aprumar
Vou tratar você com a força bru.....ta, pra poder me
reabilitar
Pois esta vida não está sopa e eu pergunto: com que roupa?
Com que roupa que eu vou
pro samba que você me convidou?
Com que roupa que eu vou pro samba que você me convidou?
Agora, eu não ando mais fagueiro, pois o dinheiro não
é fácil de ganhar
Mesmo eu sendo um cabra trapacei.....ro, não consigo ter nem pra gastar
Eu já corri de vento em popa, mas agora com que roupa?
Com que roupa que eu vou pro samba que você me convidou?
Com que roupa que eu vou pro samba que você me convidou?
Eu hoje estou pulando como sapo, pra ver se escapodesta praga de urubu
Já estou coberto de farrapo, eu vou acabar ficando nu
Meu paletó virou estopa e eu nem sei mais com que roupa
Com que roupa que eu vou pro samba que você me convidou?
Com que roupa que eu vou pro samba que você meconvidou?
Com decorrer do tempo, especificamente 5 anos. Noel se torna o mais reconhecido e bem pago sambista do Brasil. Sua fama foi geral, ganhando força até com o público feminino. Algo que se dá pelas belezas de suas letras e canções, pois se fosse pelo mérito da beleza exterior, ele teria se casado com um canhão. E foi justamente em uma festa de São João, que conheceu Ceci, a dama do Cabaret. A mulher que o encantou do primeiro minuto até seu último suspirar, a musa inspirado de seu coração. Mas por maldade do destino, e uma sociedade repressiva, ele é obrigado a casar-se com Linda, ou melhor, Lindaura. A mulher que por menos amor que ela tiverá, estendeu sua vida ao leva-lo para Belo Horizonte para tratamente, uma tentativa com grande êxito para diminuir os males causados pelo avanço da Tuberculose.
Com decorrer do tempo, especificamente 5 anos. Noel se torna o mais reconhecido e bem pago sambista do Brasil. Sua fama foi geral, ganhando força até com o público feminino. Algo que se dá pelas belezas de suas letras e canções, pois se fosse pelo mérito da beleza exterior, ele teria se casado com um canhão. E foi justamente em uma festa de São João, que conheceu Ceci, a dama do Cabaret. A mulher que o encantou do primeiro minuto até seu último suspirar, a musa inspirado de seu coração. Mas por maldade do destino, e uma sociedade repressiva, ele é obrigado a casar-se com Linda, ou melhor, Lindaura. A mulher que por menos amor que ela tiverá, estendeu sua vida ao leva-lo para Belo Horizonte para tratamente, uma tentativa com grande êxito para diminuir os males causados pelo avanço da Tuberculose.
Em seu retorno ao Rio de Janeiro, com a sáude estabilizada ele friza a todos os amigos que quase morreu, mas de saudade! Na busca pelo contato com seu grande amor, mais uma vez ele usa de seu dom da criação e tosse algumas vezes para criar “O recado.” Samba que chega em pouco tempo aos ouvidos de Ceci, pela rádio Philips.
Assim como outros sambas que foram criados para chamar, encantar ou replicar sambas contra a Vila.
Tudo começou com a apologia feita por Wilson Batista ao malandro em seu samba Lenço no pesçoço, já gravado em 1933 por Sivio Caldas. Com toda sua desenvoltura e argumento, Noel responde no mesmo ano com Rapaz folgado, contestando a identificação do sambista com o malandro. Sua réplica a Noel veio no samba Mocinho da Vila. Fora do contexto da polêmica, Noel Rosa e Vadico compõem o Feitiço da Vila. No Programa Case, Noel improvisa (sem gravar) duas novas estrofes para o Feitiço da Vila e, em cima dos ‘novos’ versos, Wilson compõe Conversa fiada, ao qual Noel contrapôs, em 1935, o samba Palpite Infeliz. O caso terminou com dois sambas seus, Frankenstein da Vila e Terra de cego, que não tiveram resposta. Mesmo entre polêmicas e desafios, tudo sempre foi feito com muito riso e respeito. A amizade entre ambos era grande.
Assim como a maré de azar que atingiu Noel, mesmo sabendo que somente com Ceci ele não poderia ficar, por ser casado. Lindaura o presenteia com o milagre da frutificação, que na verdade vem com o peso da degradação. Ainda por cima, diante do tudo, como troco, Ceci se joga nos braços de outro na frente de Noel. Mergulhado em dor, ele ainda vê seu grande amigo Ismael Silva ser preso injustamente, por proteger sua irmã, contra uma marido ignorante e tirano, onde somente queria tirar proveito de seu corpo para ganhar dinheiro. Entre muitos defeitos, Noel enxerga seu Pai acertar pela primeira vez acertar em um evento, seu projeto de morte, o primeiro que infelizmente deu certo.
Diante de todas dores, Noel como gênio do samba, consegue apesar de tudo, utilizar dos problemas como arma para criar, para nois o que representa a beleza da música, para ele era somente a libertação de seus dores e pensamentos.
Depois de muitos sambas e desalentos, depois de uma grave crise devido a tubercolese em um repouso no inteior. Noel volta ao Rio de Janeiro pela última vez, trazendo sua mais bela obra, na qual utiliza do Sambista Papagaio como porta voz de sua canção. Entre muitos sambas, ele toca seu ultimo samba para aquela que independente da maneira ou da situação, foi a mulher de sua vida, seu grande amor, sua grande inspiração, Ceci, a dama do Cabaret.
Último Desejo
Nosso amor que eu não esqueço, e que teve o seu começo
Numa festa de São João
Morre hoje sem foguete, sem retrato e sem bilhete,
sem luar, sem violão
Perto de você me calo, tudo penso e nada falo
Tenho medo de chorar
Nunca mais quero o seu beijo mas meu último desejo você não pode negar
Se alguma pessoa amiga pedir que você lhe diga
Se você me quer ou não, diga que você me adora
Que você lamenta e chora a nossa separação
Às pessoas que eu detesto, diga sempre que eu não presto
Que meu lar é o botequim, que eu arruinei sua vida
Que eu não mereço a comida que você pagou pra mim
Noel Rosa morreu aos 26 anos, em abril de 1937, deixando mais de 250 composições nas quais “exalta a vadiagem e seus amores, fazendo da pobreza poesia e de Vila Isabel um reduto do samba”
Salve o poeta da Vila!
Salve o poeta da Vila!
Discografia
Que se Dane (1999) - CD
Coisas Nossas (1996) - CD
Coisas Nossas (1995) - CD
Feitiço da Vila (1994) CD
Noel Rosa por Mário Reis e Aracy de Almeida (1993) CD
Noel Rosa Inédito e Desconhecido - Coisas Nossas (1983) CD/Vinil
Noel Rosa (1983) Vinil
Coisas Nossas (1982) Vinil
Noel Rosa x Wilson Batista - Série Temas e Figuras da Música Popular Brasileira - Vol. 1 - Roberto Paiva e Jorge Veiga (1974) Vinil
História Musical de Noel Rosa (1963) Vinil
Canções de Noel Rosa Cantadas por Noel Rosa (1955) Vinil
Canções de Noel Rosa com Aracy de Almeida (1955) Vinil
Extras
A Noiva do Condutor - Opereta Inédita de Noel Rosa - Marília Pêra e Grande Othelo (1986) Vinil
A Grande Música de Noel Rosa - Série a Grande Música do Brasil - Arranjo Sinfônico Radamés Gnattali - Piano: Arthur Moreira Lima (1979) Vinil
Coletâneas
Enciclopédia Musical Brasileira - Noel Rosa por Noel Rosa E Sinhô por Mário Reis (2000) CD
Noel pela Primeira Vez - Volume 1 (2000) CD
Noel pela Primeira Vez - Volume 2 (2000) CD
Noel pela Primeira Vez - Volume 3 (2000) CD
Noel pela Primeira Vez - Volume 4 (2000) CD
Noel pela Primeira Vez - Volume 5 (2000) CD
Noel pela Primeira Vez - Volume 7 (2000) CD
Tributos
Sem tostão 2... A crise continua... - Cristina Buarque e Henrique Cazes (2001) CD
Filosofia (2000) CD
Chico & Noel em Revista (2000) CD
Noel por Ione (2000) CD
Viva Noel - Tributo a Noel Rosa (1997) CD
Noel Rosa - Letra & Música - Johnny Alf & Leandro Braga (1997) CD
Songbook Noel Rosa (1991) • CD
Feitiço Carioca - do Mpb-4 para Noel Rosa (1987) CD/Vinil
Uma Rosa para Noel - 50 ANOS DEPOIS (1987) Vinil
Polêmica - Wilson Batista x Noel Rosa - Roberto Paiva e Francisco Egydio (1956) Vinil
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